quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Cheikh Anta Diop derrubou o racismo científico, ao provar que o Egito antigo era uma civilização negra.

 


Cheikh Anta Diop (1923-1986) foi um polímata senegalês formado em Física, Filosofia, Química,Lingüística, Economia, Sociologia, História, Egiptologia, Antropologia, versado em diversas disciplinas como o racionalismo, a dialética, técnicas científicas modernas, arqueologia pré-histórica…Enfim, um homem que estudou as origens da raça humana, e a cultura africana pré-colonial. Ainda hoje ele é considerado como um dos maiores historiadores africanos do século XX. E foram estes conhecimentos que Diop utilizou para dar base à tese que iria defender mais tarde, que fala do Egito antigo, como uma civilização composta por pessoas negras.

Por Hebreu Negro, no Hebreu Negro

Nascido no Senegal, Diop era proveniente de uma família aristocrática muçulmana Wolof (sendo educado em uma escola islâmica tradicional). Tais dados seriam úteis ao desenvolvimento de sua tese, e o jovem rapaz obteve o grau de bacharel, no Senegal, mudando-se depois para Paris, com intuito de realizar pós-graduação.

Na França o jovem senegalês irá defender uma tese revolucionária, que será rejeitada, pela universidade de Paris, mas, isso não vai deter Diop. Antes de prosseguir, frisa-se que Diop foi o primeiro egiptólogo africano. Certa vez ele afirmou ser “o único Preto Africano de sua geração, a ter recebido formação como um egiptólogo”, e “mais importante”, ele “aplicou esse conhecimento enciclopédico em suas pesquisas sobre a história Africana”.

Em 1954, Anta Diop defende uma tese de que o antigo Egito tinha sido povoado por pessoas negras. A publicação de suas idéias no livro – Unidas nègres et culture – fez dele um dos historiadores mais controversos do seu tempo.

Diop também era político, e a sociedade africana de sua época mostrava um ambiente de veemente busca pela restauração da identidade africana, que se alegava havia sido deformada pela escravidão e colonialismo. Inspirado por grandes nomes como Aimé Césaire, Diop engajou-se nesta luta, mas, sendo ele mesmo um literato, buscou reconstruir a identidade africana, do ponto de vista estritamente científico e sócio- histórico.

Cheik Anta Diop acreditava que a luta pelo renascimento cultural e político da África não teria sucesso sem que se reconhecesse o papel civilizador do continente, que data da antiga civilização egípcia.

Em 1947, Anta Diop iniciou suas investigações linguísticas, sobre o idioma wolof, que passaria a dominar de forma extensa. Em 1960, de volta ao Senegal, ele dirigiu o laboratório de radiocarbono do IFAN (Institut de l’Afriquefondamental Noire). Sem esquecer a imensa gratidão que entretinha por um antigo professor, Frédéric Joliot, que o acolheu em seu laboratório, no College de France. Neste quesito, ele iria desenvolver testes genético, vitais para comprovação de sua tese. O senegalês disse certa vez: “Na prática, é possível determinar diretamente, a cor da pele e, portanto, as filiações étnicas dos antigos egípcios, por análise microscópica, no laboratório”.

Depois disso, Diop publicou sua técnica e metodologia, um teste de dosagem de melanina, em diversas revistas acadêmicas. Ele usou esta mesma técnica, para determinar o teor de melanina das múmias egípcias.

Em 1974, Diop foi um dos cerca de 20 participantes, que estiveram na UNESCO, em um simpósio na cidade do Cairo, onde foi apresentada a sua teoria, para diversos especialistas em egiptologia. O simpósio conseguiu gerar um debate animado sobre o tema, ainda que, sem conseguir gerar consenso, sobre a validade de tais técnicas, em múmias sujeitas aos efeitos de embalsamamento e deterioração ao longo do tempo. Apesar do apoio de alguns especialistas, estas afirmações contundentes de Diop, acerca da população original do Delta do Nilo ser negra, e que tal condição permaneceu até o fim da independência do Egito, foram duramente criticadas por alguns participantes do simpósio. Em todo caso, o trabalho de Diop despertou questões importantes sobre o viés cultural inerente à pesquisa científica.

Diop mostrou de forma indelével e maciça, que os arqueólogos europeus, antes e depois da descolonização, tinham subestimado e continuam a subestimar a possibilidade de civilizações negras da antiguidade terem alcançado tremendo desenvolvimento, séculos antes que os europeus.

Descobertas do arqueólogo suíço Charles Bonnet lançaram luz sobre as teorias de Diop. Elas mostram estreitos laços culturais entre Núbia e o Egito Antigo. E ainda que, isso não implique, necessariamente, numa relação genética, entre estas nações, egiptólogos como F. Yurco notaram que os núbios eram etnicamente mais próximos dos egípcios, e compartilhavam a mesma cultura, no período pré-dinástico, além de usarem a mesma estrutura política. Estes dados são importantes para suas conclusões.

Pode-se dizer que, Cheik anta Diop sabia utilizar muito bem a arte da argumentação. Ele citou autores antigos. Para ilustrar sua teoria de que os antigos egípcios tinham o mesmos traços físicos dos modernos africanos negros (cor da pele, tipo de cabelo), citou, por exemplo, o historiador grego Heródoto. Este (o historiador grego) disse que os Colchians (Cólquida – atual Geórgia ) eram “pretos, com cabelos encaracolados”. Ele usou também sua interpretação de dados antropológicos (tais como o papel do matriarcado), que, somado a dados arqueológicos resultou na inevitável conclusão de que a cultura egípcia era uma cultura africana. Na linguística, ele mostrou, em particular, que o Wolof (falado na África Ocidental, Senegal, Gâmbia, Guiné-Bissau, Mali, República Dominicana, Mauritânia) está relacionada com o antigo idioma egípcio.

Mais tarde, as visões de Diop receberam apoio, e só eram tidas como controversas, possivelmente, por conta do então domínio do racismo científico (que é o uso de técnicas e hipóteses científicas e pseudo-científicas, para apoiar ou justificar a crença na inferioridade/superioridade racial).

Diop castigava estudiosos europeus que postulavam uma evolução separada de diversos tipos de etnias, e que negavam a origem africana do homo sapiens. Hoje sabemos que toda a humanidade é proveniente da África.

Estudiosos como Bruce Trigger condenaram os acadêmicos tendenciosos, ao declarar que os povos da região (incluso Egito) eram todos africanos. Portanto, evidencia-se aqui, a sua desaprovação aos homens responsáveis por dizer quais teses devem ser aprovadas ou rechaçadas nas universidades e revistas cientificas, até porque, os parâmetros utilizados para tal, eram marcados por uma confusão de raça, língua e cultura, e por um racismo que os acompanha. As conclusões de egiptólogos como Frank Yurco, são as de que os egípcios, núbios, etíopes, somalis, etc, eram uma população uniforme, localizada no vale do Nilo.

Sobre uma postagem que fizemos, em 29 de julho de 2015, com o título: “O Legado Roubado – Stolen Legacy (livro)”, temos um ponto interessante, na visão de Diop. Ele sustenta que os gregos aprenderam de uma civilização egípcia superior, e isso não quer dizer que a cultura grega é simplesmente uma derivada do Egito. Ao invés disso, ele vê os gregos como componentes de um “berço do norte”, distintamente crescendo fora de certas condições climáticas e culturais. Tal pensamento, portanto, não é o mesmo que o argumento do “Stolen Legacy”, livro de George James ou o “Black Athena ” de Martin Bernal.

Talvez você pergunte: por que saber tais coisas é importante? Porque o racismo ainda existe, e porque a África é o berço das ciências, mas, é considerada inferior, por versões erradas, propagadas desde as eras de escuridão do darwinismo social. Sugiro então, que você leia a postagem: “A Ciência Não é Branca”, do dia 18 de outubro de 2015, e também a: “Educação imaginativa e histórica – Eurocêntrica”, do dia 18 de agosto de 2015.

Sobre linguistica: Diop dedicou a maior parte de seus estudos para a análise das semelhanças estruturais entre as linguagens modernas africanas, o Wolof e o idioma egípcio antigo. Não abordaremos o assunto para não ficar demasiado cansativo, sugiro então, que você leia a matéria na íntegra, na fonte descrita ao final deste texto.

Sobre genética: as teorias de Anta Diop têm sido apoiadas por um número de estudiosos que mapeiam os genes humanos, por meio de técnicas modernas de análise de DNA. Diop identificou um fenótipo preto, que se estende desde a Índia, Austrália até a África, com semelhanças físicas em termos de pele escura, e uma série de outras características. E por que os traços físicos são importantes? Porque a raça é uma categoria relevante, e fenótipo ou aparência física é o que importa nas relações sociais históricas, explicou Diop. veja:

“Se falar apenas do genótipo, eu posso encontrar um negro que, ao nível de seus cromossomos, está mais perto de um sueco. Mas o que conta, na realidade, é o fenótipo. É a aparência física que conta. Ao longo da história, é o fenótipo que é levado em questão, e não devemos perder de vista este fato. O fenótipo é uma realidade, a aparência física é uma realidade. E este aspecto corresponde a algo que nos faz dizer que a Europa é povoada por pessoas brancas, a África é povoada por pessoas negras, e a Ásia por pessoas amarelas. São essas relações que têm desempenhado um papel na história ” (Cheik Anta Diop).

Quero frisar que, os egípcios da atualidade são uma mistura de povos, e Diop não ignorou essa mistura existente na história egípcia. Ele reconheceu que os antigos egípcios absorveram genes “estrangeiros”, em vários momentos da sua história (o Hyskos por exemplo), mas, considerou que essa mistura não alterou sua etnia essencial.

Sobre o termo raça, o controverso senegalês expressou dúvidas sobre seu conceito. Em um colóquio da UNESCO, em Atenas, em 1981, ele afirmou: “Eu não gosto de usar a noção de raça (que não existe) … Nós não devemos dar uma importância obsessiva a este termo”. Esta perspectiva era diferente de muitos dos escritores brancos contemporâneos. Ele disse: “Pedimos desculpa por voltar às noções de raça; o patrimônio cultural, a relação linguística, conexões históricas entre os povos, e assim por diante; não dou mais importância a estas questões do que eles realmente merecem, no século XX “. Portanto, que não venham à taxa-lo de racista, pois ele repudiava teorias racistas ou de supremacia, argumentando apenas, a favor de uma visão mais equilibrada da história africana.

Para finalizar, sugiro que você conheça algumas das evidencias apontadas por Diop, em sua tese. Leia a postagem do dia 23 de julho de 2015, cujo título é: “(01) Os Egípcios da antiguidade eram negros, e isso pode provar que Jesus Cristo também era”. Vale a pena!

Fontes:

Cheikh Anta Diop. Disponível em: http://www.casafrica.es/po/detalle-who-is-who.jsp?PROID=36580. Acesso em 20 jan. 2016.

Wikipedia, the free encyclopedia. Cheikh Anta Diop. Disponível em:https://en.wikipedia.org/wiki/Cheikh_Anta_Diop. Acesso em 20 jan. 2016.

Site oficial de Diop: http://www.cheikhantadiop.net/. - Leia a matéria completa em: http://scl.io/LJCNaXVt#gs.null

http://www.geledes.org.br/cheikh-anta-diop-derrubou-o-racismo-cientifico-ao-provar-que-o-egito-antigo-era-uma-civilizacao-negra/#gs.null

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