Obs.: Lampião,
o Rei do Cangaço reúne
as imagens registradas pelo mascate Benjamin Abrahão, entre 1936 e 1937, e que
miraculosamente sobreviveram à censura e depois ao tempo. O cinegrafista é o paisana que aparece algumas vezes. O filme não tem música, nem entrevistas pois
não havia som direto.
O
cangaço
O sertão do
nordeste brasileiro tem sofrido poucas alterações ao longo do tempo, tanto no
aspecto climático quanto no social. Desde a segunda metade do século passado
até o começo deste, a contestação à pobreza e às péssimas condições de vida tem
rendido movimentos populares e muitas dores de cabeça para os donos do poder
local e para a administração oficial, em especial para o governo federal,
geralmente omisso e fazendo seu jogo político.
Várias
rebeliões aconteceram, causadas pela exploração da mão-de-obra do sertanejo
desalojado de suas terras pela seca e pelos grandes latifundiários, além de
submetido a regimes de trabalho praticamente escravo. Essas rebeliões
disseminaram-se pelo agreste, alimentadas pelo número cada vez maior de
flagelados.
Movimentos
populares como Canudos, Contestado, Caldeirão e tantos outros surgiram com
maior foco de resistência e vigor no próprio nordeste. Foram símbolos da
resistência ao poder centralizador dos donos de terras que, numa análise
realista, eram e são verdadeiros senhores feudais.
Sem
outras alternativas e sabendo que esse estado de coisas continuaria os grupos
de rebeldes procuraram em si mesmos os meios para tentar mudanças, instigados
pelo analfabetismo, pela fome, pela falta de futuro melhor, pelos anos
sucessivos de seca, pelo descaso das autoridades e pela participação, muitas
vezes infeliz, da Igreja Católica.
O
sertão é, por natureza, adverso ao homem que ali tenta viver. O sertanejo
nordestino e sua terra eram e continuam sendo um só todo. Tirar a terra do
sertanejo é matá-lo. Tirar o sertanejo da terra é condená-lo a uma existência
tão diferente do que lhe é próprio e natural que chega a ser irreal.
Existem
meios técnicos e científicos para modificar o ambiente hostil em que vive o
nordestino, para propiciar-lhe melhores meios de subsistência. Mas, aplicados
esses métodos e mudadas as circunstâncias, provavelmente diminuiria ou acabaria
a miséria, facilitando o ajustamento do homem à região de maneira mais
confortável, o que parece não interessar aos que tiram proveito da situação vigente.
O
flagelo das secas e a cegueira dos homens que dominam o poder continuam, ainda
hoje, a provocar a alma do homem nordestino, deixando-o absurda e
vergonhosamente entregue à própria sorte, vagando de canto a canto do sertão
até ser despejado nos centros urbanos mais prósperos, tornando-se um marginal
na verdadeira acepção do termo. Seres humanos que poderiam ser bem mais
produtivos em seu próprio meio natural, além de participantes mais ativos da
sociedade, são colocados à sua margem.
O
fenômeno das secas continua o mesmo há quatrocentos anos. O tratamento recebido pelo homem
nordestino não se diferencia hoje, em quase nada, daquele existente por ocasião
dos movimentos populares de rebelião contra os senhores feudais. Suas chances
de sobrevivência não dependem apenas dele, mas também, e principalmente, do que
lhe dão e do que lhe permitem ter.
Quando
a morte passa a ser sua companhia diária o homem reage. Alguns se entregam ao
desespero, à passividade e ao desalento. Outros, de índole mais agressiva,
revoltam-se e pegam em armas. Os que não têm nada querem alguma coisa; os que
têm pouco querem mais, muito mais, pois o coronel está séculos à sua frente.
A
índole do nordestino é, normalmente, humilde, pacífica e cordata. É um sujeito
bonachão, alegre e divertido, embora duro e rude em suas maneiras. Mas quando
resolve dizer não, o nordestino vira leão e grita sua revolta na cara da
minoria opressora.
As
causas do surgimento do cangaço foram de natureza variada. A pobreza, a falta
de esperanças e a revolta não foram as únicas. Isso é mais que certo. Mas foram
estas circunstâncias as mais importantes para que começassem a surgir os
cangaceiros. Muitos, como dissemos, eram pequenos proprietários, mas mesmo
assim tinham que se sujeitar aos coronéis. Do meio do povo sertanejo rude e
maltratado surgiram os cangaceiros mais convictos de que lutavam pela
sobrevivência.
-
Se não me dão os meios de conseguir, eu tomo. - pareciam dizer.
Virgolino
Ferreira era um trabalhador. Do tratamento duro e injusto que o trabalhador Virgolino
Ferreira e sua família receberam surgiu Lampião, o "Rei do Cangaço".
Lampião
nunca foi um líder de rebeliões ou um ídolo que servisse para a formação de
camponeses revoltados. Política nunca foi parte de sua vida. Mas as populações
humilhadas e ofendidas viam em Lampião um exemplo, naquele meio termo entre
temer o que ele era e querer ser igual a ele, quase a justificar sua existência
de bandoleiro errante.
Lampião
subverteu a ordem imposta, mesmo que não fosse esse seu objetivo. Latifúndios
que, durante décadas e até mesmo séculos imaginavam-se intocáveis, sentiram o
peso de sua presença e o terror das consequências do não atendimento de suas
exigências.
O
caminho que Lampião traçou nas sendas da Bahia, Sergipe, Pernambuco, Alagoas,
Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte, hoje claramente observado nos mapas e na
memória viva da história do cangaço, praticamente não foi alterado nos últimos
60 anos. E pouco, talvez nada, será alterado durante os próximos 60 anos ou
mais.
Onde
lutou Lampião ainda estão, nos dias de hoje, as sobras da subserviência, a
presença maciça da ignorância, a exploração dos pequenos e dos humildes. E, de
forma geral, também a indiferença nacional continua a mesma.
A
economia brasileira progrediu, mas esse progresso deixou de lado a estrutura
caótica e ultrapassada das distâncias sertanejas.
Existem
dois países neste nosso Brasil: um mantém a mesma ordem, a mesma estrutura e os
mesmos vícios do passado; o outro caminha para o progresso, modificando-se e
modernizando-se, seguindo os modelos apresentados por outras nações.
No
norte-nordeste até a imagem física das localidades permanece quase a mesma do
século passado. Quase nada mudou desde os tempos em que Lampião decidiu que não
seria mais o trabalhador Virgolino Ferreira, já que não valia a pena. E o pouco
de paciência que tivera se acabara por causa dos abusos.
Se
quase nada mudou, se as circunstâncias continuam as mesmas, podemos concluir
que o terreno que gerou Lampião ainda está lá, esperando novas sementes. Se
existe alguma germinando, neste exato momento, é difícil saber.
Talvez
alguns prefiram não pensar a respeito.
O cangaço
surgiu e desenvolveu-se na região semi-árida do nordeste brasileiro, no império
da caatinga, nome que significa "mata branca". Não é uma área
pequena, cobrindo cerca de 700 mil quilômetros quadrados.
Na
caatinga existe um único rio perene, o São Francisco, o velho Chico, tão
conhecido por todos. Os outros rios secam e desaparecem durante a época da
estiagem, quando os únicos a não sofrer são os coronéis, muitos deles
transformados, atualmente, em políticos. Se mudaram a roupagem, não mudaram os
hábitos, e continuam, de maneira geral, procurando tirar o máximo proveito
possível da situação.
Nos
leitos dos rios secos, durante o período de nossa história, que vai de 1900 a
1940, os sertanejos cavavam cacimbas, procurando o pouco de água que ainda
restava. Ainda hoje, em muito lugares, essa é uma das poucas formas de se
conseguir alguma água, mesmo de má qualidade. Outra maneira era cavar à procura
da raiz de uma árvore chamada umbu, extraí-la da terra e espremê-la até obter
um pouco de líquido com as mesmas qualidades da água. Os cangaceiros
utilizavam-se muito desta última forma de conseguir "água".
Os
sertões de Alagoas, Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte e
Sergipe serviram de palco para o drama que envolveu milhares de nordestinos,
apesar de existirem, em meio à aridez da região, verdadeiros oásis. Em
Pernambuco, por exemplo, está Triunfo, a 1180 metros acima do nível do mar,
onde existe uma cachoeira de 60 metros de altura. A temperatura chega a cair,
durante a noite, a 5 graus, e existem árvores frutíferas em abundância. No
sertão do Cariri, no Ceará, há uma região coberta de mata, formando uma
floresta tropical com árvores de até 40 metros de altura. Outros exemplos de
locais de clima ameno são Garanhuns e a região de Serra Negra, no município de
Floresta, ambos em Pernambuco.
Já
de aspecto completamente oposto, o Raso da Catarina e a região de Canudos são
pontos em que a natureza aprimorou-se em deixar a terra nua e sáfara,
totalmente árida.
A
fauna nordestina varia dependendo do tipo de clima.
Quando
Lampião andava por aqueles sertões, ali existiam onças pintadas, suçuaranas,
onças pretas, veados e tipos variados de serpentes, como jararacas, jibóias,
cascavéis, etc. O gavião carcará é um dos mais conhecidos habitantes dos
sertões, assim como diversas espécies de lagartos. Papagaios, periquitos,
canários, juritis, azulões, anus pretos e emas eram também numerosos naquela
época. À beira do Rio São Francisco encontrávamos jacarés guaçú, pipira, tinga,
o de papo amarelo, etc.
Hoje
é uma outra história, pois o homem teima em destruir a natureza.
Todos os personagens mencionados até agora foram muito importantes
na história do cangaço e, direta ou indiretamente, participantes da formação e
da vida de Lampião. No entanto as principais figuras da saga do cangaço eram os
próprios cangaceiros, inúmeros e de personalidades distintas entre si.
Os grupos e subgrupos formados pelos cangaceiros existiam em
grande quantidade. Era habitual que depois de participar de um agrupamento durante
algum tempo o indivíduo se sentisse
apto a ter seu próprio bando. No momento em que achava que estava preparado
para ter sua própria organização ele se dirigia a seu líder e expunha seus
planos. Geralmente não havia nenhum problema. O mais comum era encontrar
respaldo em seu chefe que, por sua vez, sabia que, no futuro, se necessário,
poderia contar com a ajuda desse seu ex-subalterno.
Dessa forma os grupos iam se subdividindo ou se reagrupando,
num contínuo e alternado processo de divisão e crescimento. Assim surgiam os
numerosos líderes de bandos, tantos que a maioria teve seus nomes esquecidos
pela história. Muitos, entretanto, tornaram-se conhecidos, eseus nomes serão
lembrados sempre que se falar em cangaço.
Era o
nome pelo qual José Gomes tornou-se conhecido. Nasceu em 1751, em Glória do
Goitá, Pernambuco.
Lucas da Feira
Assim era
conhecido Lucas Evangelista, por haver nascido em Feira de Santana, Bahia.
Lucas da Feira nasceu em 18 de outubro de 1807.
Jesuíno Brilhante
A data de
nascimento deste cangaceiro é objeto de muitas controvérsias. Dizem uns que ele
nasceu em 02 de janeiro de 1844, outros que foi em março de 1844. Seu nome de
batismo era Jesuíno Alves de Melo Calado.
Adolfo Meia Noite
Sabe-se
que nasceu em Afogados da Ingazeira, sertão do Pajeú de Flores, em Pernambuco,
em data indeterminada.
Antonio Silvino
Nascido
na Serra da Colônia, em Pernambuco, no dia 02 de novembro de 1875, foi batizado
como Manoel Batista de Moraes.
Sinhô Pereira
Sebastião
Pereira da Silva, conhecido como Sinhô Pereira, nasceu em 20 de janeiro de
1896, em Pernambuco. Sinhô Pereira foi o único chefe de Lampião antes deste ter
o seu próprio grupo.
Lampião
Como
vimos, vários cangaceiros tiveram seus nomes gravados pela história, mas nenhum
deles destacou-se tanto quanto Lampião.
Seu nome de batismo era Virgulino Ferreira da Silva.
Lampião, ao contrário do que muita gente pensa, não foi o
primeiro cangaceiro, mas foi, praticamente, o último. Sem dúvida nenhuma foi o
mais importante e o mais famoso de todos. Seu nome e seus feitos chegaram a
todos os recantos de nosso país e até ao exterior, sendo objeto de reportagens
da imprensa internacional.
Até o advento de Lampião, como passou a ser conhecido a
partir de certo momento de sua vida, o cangaço era apenas um fenômeno regional, limitado ao
nordeste do Brasil. O restante do país não se incomodava com o que não lhe
dizia respeito. Mas a presença de Lampião, sua ousadia e seu destemor, fizeram
do cangaceiro uma figura de destaque nos noticiários diários do país inteiro,
exigindo atenção cada vez maior por parte das autoridades, que se sentiram
publicamente desafiadas a liquidá-lo.
Passou a ser uma questão de honra acabar com Lampião e, por
via de conseqüência, com o cangaço.
Lampião
Aqui se conta a história de Lampião, o
famoso capitão Virgulino Ferreira, também conhecido como o "Rei do
Cangaço". Não toda ela, pois não é fácil abranger de forma completa a saga
de um brasileiro que pode ser equiparado, em fama e feitos, aos famosos
personagens do velho oeste americano. Para facilitar o entendimento, ainda que
parcial, é necessário situar a história e seu personagem principal no meio
físico em que nasceu, viveu e morreu.
Descrever o nordeste, por onde andou
Lampião, sem entrar na costumeira lista de nomes de vegetais, tipos de solo e
outros detalhes semelhantes, é uma tarefa ingrata. Resultaria desnecessária
para quem já conhece a região e incompleta para quem nunca esteve lá.
Embora aparentemente agreste o nordeste
é de natureza rica e variada. Ou talvez seja melhor dizer que é um misto de
riqueza e pobreza, com imensa quantidade de espécies em sua fauna e flora,
embora de clima seco durante a maior parte do ano. Chove muito pouco, o chão é
seco e poeirento. A vegetação é rasa e, na maior parte do ano, de cor cinza. De
vez em quando surgem árvores cheias de galhos, também secos, frequentemente
cobertos de espinhos que, se tocarem a pele, ferem. Raramente se encontra um
local onde haja água, mas onde ela se apresenta a vegetação é muito mais verde,
apesar de não radicalmente diferente de no restante da região. Saindo da
planície e subindo para as partes mais altas, atingindo as serras e os
serrotes, o ar tornar-se mais frio e as pedras desenham a paisagem.
Não há estradas, só caminhos, abertos e
mantidos como trilhas identificáveis pela passagem dos que por ali circulam,
geralmente a pé.
Em breves palavras, esse era o ambiente
em que Virgulino Ferreira passou toda sua vida. Pode-se dizer que muito pouco
mudou desde então.
LAMPIÃO E SUA HISTÓRIA
Versos de Gonçalo Ferreira da Silva, do
cordel "Lampião - O Capitão do Cangaço":
O século passado estava
dando sinais de cansaço, José e Maria presos por matrimonial laço em breve seriam pais do grande rei do cangaço. No dia quatro de junho de noventa e oito, a pino estava o Sol, e Maria dava à luz um menino que receberia o nome singular de Virgulino. |
A família
Virgolino Ferreira da Silva era o
terceiro dos muitos filhos de José Ferreira da Silva e de Maria Lopes.
Nasceu em 1898, como consta em sua certidão de batismo, e não em 1897, como
citado de várias obras.
A família Ferreira formou-se na
seguinte sequência, por datas de nascimento:
1895 - Antonio Ferreira dos Santos
1896 - Livino Ferreira da Silva
1898 - Virgulino Ferreira da Silva
???? - Virtuosa Ferreira
1902 - João Ferreira dos Santos
???? - Angélica Ferreira
1908 - Ezequiel Ferreira
1910 - Maria Ferreira (conhecida como Mocinha)
1912 - Anália Ferreira
1896 - Livino Ferreira da Silva
1898 - Virgulino Ferreira da Silva
???? - Virtuosa Ferreira
1902 - João Ferreira dos Santos
???? - Angélica Ferreira
1908 - Ezequiel Ferreira
1910 - Maria Ferreira (conhecida como Mocinha)
1912 - Anália Ferreira
Todos os filhos do casal nasceram no
sítio Passagem das Pedras, pedaço de terras desmembrado da fazenda Ingazeira,
às margens do Riacho São Domingos, no município de Vila Bela, atualmente Serra
Talhada, no Estado de Pernambuco.
Esse sítio ficava a uns 200 metros da
casa de dona Jacosa Vieira do Nascimento e Manoel Pedro Lopes, avós maternos de Virgulino. Por causa dessa proximidade Virgulino residiu com eles durante
grande parte de sua infância. Seus avós paternos eram Antonio Ferreira dos
Santos Barros e Maria Francisca da Chaga, que residiam no sítio Baixa Verde, na
região de Triunfo, em Pernambuco.
A infância de Virgulino transcorreu
normalmente, em nada diferente das outras crianças que com ele conviviam. Todas
as informações disponíveis levam a crer que as brincadeiras de Virgulino com
seus irmãos e amigos de infância eram
nadar no Riacho São Domingos e atirar com o bodoque,
um arco para bolas de barro. Também brincavam de cangaceiros e volantes, como todos os outros meninos da época, imitando, na fantasia, a realidade do que viam à sua volta, "enfrentando-se" na caatinga. Em outras palavras, brincavam de "mocinho e bandido", como faziam as crianças nas outras regiões mais desenvolvidas do país.
nadar no Riacho São Domingos e atirar com o bodoque,
um arco para bolas de barro. Também brincavam de cangaceiros e volantes, como todos os outros meninos da época, imitando, na fantasia, a realidade do que viam à sua volta, "enfrentando-se" na caatinga. Em outras palavras, brincavam de "mocinho e bandido", como faziam as crianças nas outras regiões mais desenvolvidas do país.
Foi alfabetizado por Domingos Soriano e
Justino de Nenéu, juntamente com outros meninos. Freqüentou as aulas por apenas
três meses, tempo suficiente para que aprendesse as primeiras letras e pudesse,
pelo menos, escrever e responder cartas, o que já era mais instrução do que
muitos conseguiam durante toda sua vida, naquelas circunstâncias.
O sustento da família vinha do
criatório e da roça em que trabalhavam seu pai e os irmãos mais velhos, e da
almocrevaria. O trabalho de almocreve estava mais a cargo de Livino e de
Virgolino, e consistia em transportar mercadorias de terceiros no lombo de uma
tropa de burros de propriedade da família.
Os trajetos variavam bastante, mas de
forma geral iniciavam-se no ponto final da Great Western, estrada de ferro que
ligava Recife a Rio Branco, hoje chamada Arcoverde, em Pernambuco. Ali
recolhiam as mercadorias a serem distribuídas pelos locais designados por seus
contratantes, em diversas vilas e lugarejos do sertão. Esse conhecimento
precoce dos caminhos do sertão foi, sem dúvida, muito valioso para o cangaceiro
Lampião, alguns anos mais tarde.
Por duas vezes Virgolino acompanhou a
tropa até o sertão da Bahia, mais exatamente até as cidades de Uauá e Monte
Santo. Nesta última havia um depósito de peles de caprinos que eram, de tempos
em tempos, enviadas pelo responsável, Salustiano de Andrade, para a Pedra de
Delmiro, em Alagoas, para processamento e exportação para a Europa.
Esta informação nos foi prestada por
dona Maria Corrêa, residente em Monte Santo, Bahia. Dona Maria Corrêa, mais
conhecida como Maria do Lúcio, exercia a profissão de parteira e declarou-nos
que, quando jovem, conheceu Virgulino Ferreira durante uma de suas visitas ao
depósito de peles.
Como curiosidade e melhor
identificação, dona Maria Corrêa é a parteira que foi condecorada pelo então
presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira ao completar mil partos realizados
com sucesso.
É bom frisar que as peles caprinas não
eram compradas pelos Ferreira, apenas transportadas por eles, num serviço
semelhante ao do frete rodoviário dos dias atuais.
Em quase todas suas viagens os irmãos
tinham a companhia de Zé Dandão, indivíduo que conviveu durante muito tempo com
a família Ferreira.
Nossas pesquisas na região comprovaram,
através de diversos depoimentos pessoais, que José Ferreira, o patriarca da
família, era pessoa pacata, trabalhadora, ordeira e de ótima índole, do tipo
que evita ao máximo qualquer desentendimento.
Esses depoimentos positivos merecem
especial atenção e ainda maior credibilidade por terem sido prestados por
pessoas inimigas da família. Apesar da inimizade preferiram contar a verdade a
denegrir gratuitamente o nome de José Ferreira.
A mãe de Virgulino já era um pouco
diferente, mais realista em relação ao ambiente em que viviam. De maneira geral
todos os entrevistados declararam que José Ferreira desarmava os filhos na
porta da frente e dona Maria os armava na porta de trás dizendo:
- Filho meu não é para ser guardado no
caritó. Não criei filho para ser desmoralizado.
Fonte: http://usuarioweb.infonet.com.br/~LAMPIAO/cangaceiro.htm
https://www.facebook.com/531448996971779/videos/826735070776502/
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