Biografia - Ernst Gotsch
Por Dayana Andrade
Mudar o ponto de vista pode ser uma atitude aparentemente simples, mas foi
sempre ela que alavancou as transformações mais revolucionárias de que temos
notícia.
Tomemos como exemplo um cientista, dedicado ao melhoramento genético, que
buscava nas plantas forrageiras – seu objeto de estudo – genótipos que fossem
mais resistentes às doenças. Imaginemos agora esse mesmo cientista parar, num
determinado momento, para se perguntar se a resposta que buscava não poderia
vir do caminho oposto ao que seguia. “Será que não conseguiríamos maior
resultado se procurássemos modos de cultivo que proporcionassem condições
favoráveis ao bom desenvolvimento das plantas, ao invés de criar genótipos que
suportem os maus-tratos a que as submetemos?” Gotsch. Assim germinava o
pensamento sobre Agricultura Sintrópica, dentro da pesquisa e da vida de Ernst
Gotsch, suíço nascido em 1948.
Na década de 70, Götsch desenvolve seus primeiros estudos sobre sistemas
complexos de plantio, em áreas no norte da Suíça e no sul da Alemanha. Sempre
buscando o caminho dos consórcios entre espécies, testou, por exemplo, as
antigas tradições de plantação de milho junto com feijão, mas também
experimentou novas associações como trigo e ervilha ou framboesa, maçã e
cereja, entre outras. Do sucesso das colheitas começa a surgir a idéia de organismo.
Da idéia de organismo viria a da cooperação e,
dali, a idéia da sucessão, dos sistemas, e
tantos outros conceitos que fundamentam a filosofia e a técnica deste
agricultor e pesquisador, no sentido mais orgânico dos termos.
Em 1979 muda-se para a Costa Rica. Lá realiza trabalhos de recuperação de
solos degradados com a implantação de Sistemas Agroflorestais altamente
produtivos, sempre prescindindo de qualquer agroquímico.
Chega ao Brasil em 1982 e em 1984 fixa-se em uma fazenda no sul da Bahia. O
nome da Fazenda, como de costume na região, era uma crônica da realidade local:
“Fazenda Fugidos da Terra Seca”. Aproximadamente 500 hectares de terra tornada
improdutiva devido às práticas de: corte de madeira, repetidos ciclos de
cultivo de mandioca nas encostas dos morros, criação de suínos nas baixadas e
formação de pastagens por meio de fogo ao longo das margens da estrada que
corta a fazenda. Ali continuaria o desenvolvimento obssessivo de seus
experimentos em Sistemas Agroflorestais Sucessionais, alcançando alta
produtividade em grande variedade de espécies vegetais, com destaque para o
cacau e a banana. Além de alimentar sua família e dali tirar sua renda, a
consequência de sua intervenção pôde ser empiricamente observada mais tarde. A
Mata Atlântica ressurgia na área, com todas as suas características de flora e
fauna. Hoje são cerca de 410 hectares de área reflorestada, dos quais 350 foram
transformados em RPPN, além de 120 hectares de Reserva Legal. Cerca de 14
nascentes ressurgiram na fazenda que hoje, seguindo a tradição cronista, passou
a chamar-se “Fazenda Olhos d’Água”.
Referência internacional em Sistemas Agroflorestais Sucessionais, Ernst
Gotsch desenvolveu uma apurada técnica de plantio cujos princípios e práticas
podem ser aplicados a diferentes ecossistemas. “Amazônia, Cerrado, Altiplano
Boliviano, Caatinga, eu vi que todos esses lugares podem ser um paraíso quando
bem trabalhados”. Com uma visão da agricultura que reconcilia o ser humano com
o meio ambiente, Gotsch tem artigos publicados, mas nunca escreveu sobre o
conjunto de suas observações, pois acredita que sua pesquisa não está acabada.
E, mesmo sobre as conclusões a que já chegou, diz que “não há o que ser dito,
pois é óbvio”, com a clareza daquilo que dá certo que,
naturalmente, nos salta aos olhos.
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